quinta-feira, 10 de março de 2011

08 demarço: Dia Internacional da Mulher

Lei Maria da Penha: conquista histórica das mulheres brasileiras
A lei Maria da Penha (lei 11.340/2006) é a primeira lei federal dirigida á prevenção e ao combate á violência doméstica e familiar contra a mulher. Sancionada pelo Presidente da República em 07 de agosto de 2006, a lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra mulher e estabelece medidas de assistência e proteção ás mulheres em situação de violência doméstica e familiar. O nome da lei homenageia a biofarmacêutica cearense Maria da Penha Maia, que lutou 20 anos para ver seu agressor condenado.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Dicionário de Filosofia

Universais

Designação genérica que discute, em filosofia, a origem e a natureza das idéias. Sobre a questão firmaram-se três posições fundamentais: nominalismo, realismo e conceitualismo. Motivo de controvérsia e reflexão escolástica.

Valor

Axiologia, ou teoria do valor é a abordagem filosófica do valor em sentido amplo. Sua importância reside principalmente no novo e mais extenso significado que atribuiu ao termo valor e na unidade que trouxe ao estudo de questões econômicas, éticas, estéticas e lógicas que eram tradicionalmente consideradas em separado.

Verdade

Na Filosofia Clínica, há dois tipos de verdade: subjetiva e consensual. A verdade subjetiva é aquela que habita a pessoa que está de acordo com a sua singularidade, sua Estrutura de Pensamento. Quanto à verdade consensual, é aquela estabelecida em conjunto pelas pessoas.

Dicionário de Filosofia

Russell, Bertrand

Bertrand Russell - Matemático, lógico e filósofo inglês - enfatizou o caráter libertador da lógica e defendeu pontos de vista neopositivistas e behavioristas. A filosofia russelliana apresenta alguns aspectos determinantes da linguagem, considera as definições de conhecimento e de verdade, envolvendo a relação entre verdade e experiência. Dedicou-se a três grandes áreas de estudo, com a premissa subjacente de que a visão científica do mundo é certamente a visão correta: a teoria do conhecimento, as relações entre lógica e matemática e, finalmente, entre lógica e linguagem. Pertinentes a esse último tema são a filosofia do atomismo lógico - influenciada pelas idéias de seu aluno Ludwig Wittgenstein, de quem mais tarde discordaria - e a chamada teoria das descrições. Em seus Princípios de Matemática, Russell diz que todas as palavras têm significado na acepção de que são símbolos representativos de outra coisa que não eles mesmos: as entidades indicadas pelas palavras. Lógico, filósofo e ativo militante político, Bertrand Russell acreditava que a filosofia deve preparar o terreno para uma ciência pragmática que permitirá ao homem dedicar-se ao aperfeiçoamento do mundo em que vive. Russell chama de dados sensórios o que se aproxima de simples idéias do sentido e se refere diretamente o que está relacionado aos sentidos e aos dados proprioceptivos: percepções e impressões que constituem a experiência. A obra filosófica mais lida de Bertrand Russell é a History of Western Philosophy (1945; História da filosofia ocidental).

Saber

Erudição, sabedoria, experiência da vida, do mundo. Aquilo que se sabe. Só se diz propriamente neste sentido se os conhecimentos em questão forem suficientemente numerosos, sistematizados e elaborados por um trabalho contínuo do espírito. Filosoficamente é a certeza de estar convencido e poder se explicar em toda a sua plenitude uma verdade de ordem diversa daquelas que se atingem por meio da razão. Estado de espírito que conhece; relação do sujeito que pensa com um conteúdo objetivo do pensamento, formulado numa proposição, de que admite a verdade por razões intelectuais e comunicáveis. A Filosofia Clínica usa três campos filosóficos como maneira de Construção do Saber: lógica Formal adaptada à clínica, Esteticidade associada a Somaticidade e Matemática Simbólica. No sentido bem amplo do termo, podemos considerar o estudo metódico e reflexivo do saber, de sua organização, de sua formação, de seu desenvolvimento, de seu funcionamento e de seus produtos intelectuais. Estudo da natureza e dos fundamentos do saber, particularmente de sua validade, de seus limites, de suas condições de produção. Quanto maior a importância do saber, maior a necessidade de dotar o homem de sólidos fundamentos teóricos e critérios de verdade para entendimento daquilo que se deve fazer como habilidade para conseguir os seus fins e ter conhecimentos especiais para compreender os sistemas que necessitamos para a estruturação do pensamento no mundo vivido. Processo de busca, do vivido, em sua forma verdadeira com o propósito de compreender a realidade das coisas assim como existem, não só os conhecimentos, também as artes, a formação do caráter de forma natural e genuinamente humana. Ethos (hábitos) que o faz ser digno e bom tanto como governado quanto como governante. Seu objetivo não é ensinar ofícios, mas sim treinar a liberdade do pensar como o legado deixado de uma geração para outra na sociedade.

Sentimentos

São estados afetivos, ou tendência afetiva geral, por oposição ao conhecimento. Variantes das emoções, das paixões, dos prazeres. Mais especificamente, prazeres, dores, emoções que tem causas morais, e não causas orgânicas imediatas. Estados de alma, ditos também estados psíquicos, decorrentes do sentir. Spinoza fala dos sentimentos passivos como a passagem das paixões às ações, aos atos. Conjunto de emoções e de inclinações altruístas e simpáticas, por oposição ao egoísmo, mas também a idéia de conhecimento intuitivo e imediato, por oposição ao raciocínio. Segundo o existencialismo, o único meio que possuímos para entrar em contato com a existência concreta e vivida, consiste no sentimento ou emoção. Assim é que dos conhecimentos sensíveis se fazem seguir prontamente estados de emotivos, e que podem ser os mais diversos, de satisfação uns, insatisfação outros. Importa não confundir, pois, a sensação com os sentimentos e as emoções decorrentes. Primeiro acontece o conhecimento, com objeto. Depois decorrem os estados conseqüentes, sem novo objeto. Podemos notar, através da critica de Lalande, em seu vocabulário técnico e critico, que o sentido da palavra sentimento se divide em dois grupos. Num grupo está a idéia essencial de estado afetivo e, no outro grupo a idéia de conhecimento imediato; a acepção de opinião, parecer, crença apesar de estar diretamente ligada a um sentido clássico sentire, sententia, tomou, segundo ele, por uma espécie de contágio, alguma coisa dessa conotação.

Sistema

Conjunto de princípios organizados de modo a formar um todo científico ou um corpo de doutrina.

Sofisma

Termo que designa, em filosofia, o argumento que, a partir de premissas verdadeiras, ou assim consideradas, chega a conclusões inadmissíveis, que não pode enganar a ninguém, mas que parece conforme as regras formais do raciocínio e que não se sabe como refutar.

Solipsismo

Doutrina filosófica que afirma ser o eu individual a única realidade e que apresenta pessoas e objetos como representações da subjetividade.

Teorema

Enunciado de uma proposição ou uma propriedade que pode ser demonstrada por um raciocínio lógico a partir de fatos dados ou hipóteses justificáveis incluídos neste enunciado.

Teoria

Sistema ou doutrina que trata dos princípios básicos de uma ciência ou arte.

Termo

É tudo o que se encontra expresso: som, frase, dados escritos, atos mecânicos, como dançar, etc.

Tese

Termo que designa, em filosofia, o princípio imediato do silogismo que serve de base para qualquer demonstração. Na dialética hegeliana, é a afirmação de um conceito que, negado pela antítese, dá origem à síntese.

Dicionário de Filosofia

Metafísica

Metafísica ou filosofia primeira constitui a parte mais importante de toda doutrina filosófica, já que investiga os princípios e causas últimas da realidade, a essência do ser ou "o ser como ser". Seu estudo deve partir de uma análise formal e abstrata da realidade e se denomina ontologia ou metafísica geral. No pensamento moderno, tende a dar o nome de metafísica a toda filosofia especulativa que se ocupe de princípios não-perceptíveis diretamente de modo empírico, como "alma", "essência" ou "absoluto", ou que elabore concepções do mundo não suscetíveis de demonstração científica. Assim, na oposição clássica entre idealismo e materialismo, as escolas contemporâneas de tradição empirista -- positivismo, filosofia analítica -- tenderam a negar a validade da metafísica como ciência, enquanto correntes como o irracionalismo, o existencialismo e o intuicionismo, embora discordem dos critérios dogmáticos da metafísica tradicional, admitem o caráter de certo modo metafísico de todo empreendimento filosófico.

Paidéia

Ideal educativo que compreendia, na Grécia antiga, não só os conhecimentos, mas também as artes e a formação do caráter. Em Roma, identificou-se com o conceito de humanitas.

Paradigma

É um esquema ou modelo mental que se toma como referência e sobre o qual se constrói um processo intelectual. Em filosofia da ciência é o princípio básico que sustenta uma teoria geral e cuja alteração acarreta a mudança de toda a teoria.

Paradoxo

É o termo que designa, em filosofia, a declaração que expressa uma aparente contradição e cujo significado mais profundo só é revelado depois de cuidadosa investigação. Seu objetivo é despertar a atenção e provocar novas idéias, como no caso de Zenão de Eléia, cujo qual, com um Argumento lógico, pretendeu demonstrar, no século V a.C., a impossibilidade do movimento, qual considerava uma ilusão dos sentidos

Plasmar sintético

A Significa moldar em síntese, em resumo. É um modo plástico de reorganizar os objetos do intelecto. Segundo Wittgenstein a linguagem é um labirinto de caminhos, logo a comunicação tem em si mesma um significado próprio (Merleau-Ponty), ela pode criá-lo; e uma tradução de outro significado que ela está representada. É o caráter da ampla interseção que permite a comunicação. Trata-se de um procedimento prático que permite garimpar verbos mentais, reagrupá-los e construir oportunidades de novas condições de vida.

Dicionário de Filosofia

Idéias abstratas

Berkeley considera que a abstração nos leva a conceber coisas que não existem em lugar algum, por isso nega a sua existência, ou seja, para ele não há idéias abstratas, somente idéias concretas. David Hume diz, no Tratado da Natureza Humana, que as idéias são imagens apagadas das impressões em nossos pensamentos e em nossos raciocínios. Para John Locke um conceito, é uma idéia abstrata e, por ser humana, é a principal diferença entre animais e homens. Ele designa idéia, tudo o que é objeto do intelecto enquanto pensamento - imagem, noção, conceito mental. Se para Locke abstração é o processo através do qual o humano adquire os conceitos, então, nesse caso, podemos considerar conceito como uma idéia abstrata, como uma idéia que representa um aspecto da realidade isolada pelo espírito.


Idéias Complexas

Na Filosofia Clínica as Idéias Complexas, seguem a indicação de Hume e Locke e, refere-se a imagens mentais que se seguem a alguma vivência relacionada aos sentidos que sejam simultâneos ao derivar das idéias antecedentes, de modo adaptado à singularidade da pessoa. Novas idéias, subseqüentes e conseqüentes, darão uma diretriz de resolução à pessoa em direção às sensações, o que significa levar a pessoa da abstração para o sensorial e fazê-la viver momentos no limite sensorial a fim de conduzi-la a vivências que tinha somente enquanto usava conceitos ou termos que podiam ser usados como um modo íntimo de ser no mundo, e assim se ter maior objetividade, minúcia, entendimento, simplicidade.


Infinito

A noção de infinito não provém da experiência humana, que é necessariamente limitada, e só pode ser enunciada pelo raciocínio abstrato. A isso se deve a dificuldade de definir, entender e empregar esse conceito. Define-se infinito, de modo geral, como aquilo que não tem começo, fim ou limites. Conforme se trate de filosofia, ciências ou religião, no entanto, entende-se infinito de diferentes formas.


Linguagem

A linguagem - traço que melhor define a espécie humana - é um conjunto de sistemas, ligados um aos outros, cujos elementos não têm nenhum valor independente das relações de equivalência e de oposição que os unem; é, no sentido mais corrente, um instrumento de comunicação, um sistema de signos vocais específicos aos membros de uma mesma comunidade; é a capacidade específica, da espécie humana, de se comunicar por meio de um sistema de signos vocais, ou língua, que coloca em jogo uma técnica corporal complexa e supõe a existência de uma função simbólica, e de centros nervosos, geneticamente especializados. No convívio social o homem se apropria desse instrumento que se lhe oferece já elaborado para utilização coletiva do que chama de língua. Consiste em desenhar sinais correspondentes a idéias ou a que se figura por certo signo, independente do vocábulo que se possa ouvir para cada idéia, porém a linguagem não é um sistema só de símbolos, mas também de estímulos, que acordam imagens adormecidas e associadas. A filosofia - ramo ainda pouco desenvolvido da lingüística - estuda, por um lado, o papel da língua em relação ao entendimento e à elucidação dos conceitos filosóficos e, por outro, a condição filosófica das teorias, das observações e dos métodos lingüísticos; caracterizada pela aplicabilidade universal da teoria ou método lingüístico no estudo das línguas, onde engloba os conceitos teóricos, descritivos e comparativos. Os universais da linguagem equivalem aos traços gerais da linguagem, e que fornecem uma teoria acerca da faculdade humana da linguagem, ou seja, das propriedades biologicamente necessárias da língua. Assim a expressão, da faculdade comunicativa, que permite a ligação entre indivíduos por meio de signos convencionais, falados ou escritos chama-se linguagem e o instrumento dessa utilização coletiva chama-se língua. Para Ferdinand de Saussure (1857-1913), língua é um sistema de relações e um instrumento sem o qual seria dificultada a vida em sociedade ou qualquer forma de comunicação que se estabeleça o uso de palavras, sons ou imagens em suas representações. O estudo científico da língua se dá através da lingüística e seu estudioso ou pesquisador é denominado lingüista. Na clínica é usada para aplicação de teorias, métodos e descobertas lingüísticas na análise das condições médicas e dos ambientes relacionados a disfunções da linguagem. De forma pedagógica é usada ocasionalmente para a aplicação de descobertas descritivas, teoria e métodos lingüísticos ao estudo do ensino ou aprendizado da língua-materna em escolas ou outros ambientes de ensino formal. A computação é um ramo da Lingüística quando as técnicas e os conceitos da informática são aplicados na elucidação de problemas fonéticos e lingüísticos nas aplicações matemáticas cuja lingüística, também estuda as propriedades matemáticas da língua, geralmente emprega conceitos estatísticos ou algébricos. Portanto há um gesto para cada idéia que se deseje transmitir ou tornar conhecidos os valores dessa série de sinais; ficando assim esclarecido o pensamento ou frase que se buscar exprimir.

Dicionário de Filosofia

Emoções

Em geral entende-se por qualquer estado, movimento ou condição que provoque no homem a percepção do valor que determinada situação tem para a sua vida, suas necessidades, seus interesses. Na Ética a Nicômaco, Aristóteles diz que emoções é toda afeição da alma, acompanhada pelo prazer ou pela dor - sendo o prazer e a dor a percepção do valor que o fato ou a situação que se refere a afeição tem para a vida. No Esboço de uma teoria das emoções (1930), Sartre vê uma conduta dotada de sentido por meio da qual o indivíduo se esforça por se adaptar ao mundo mudando-o ou negando-o de forma mágica. Na Filosofia clínica, Lúcio Packter afirma que as emoções traduzem as composições subjetivas de dados sensoriais e abstratos que resultam em estados afetivos que tem origem em dados somente sensoriais, ou melhor, em movimento que a pessoa vivencia como um estado afetivo qualquer: prazer, dor, alegria, tristeza, amor, ódio, bem-estar, esperança, desejo, saudade, carinho.

Epistemologia

Epistemologia, gnosiologia ou teoria do conhecimento é a parte da filosofia cujo objeto é o estudo reflexivo e crítico da origem, natureza, limites e validade do conhecimento humano. A reflexão epistemológica incide, pois, sobre duas áreas principais: a natureza ou essência do conhecimento e a questão de suas possibilidades ou seu valor.

Estrutura de pensamento

É o modo como a pessoa está existencialmente no ambiente. A estrutura de pensamento se dá mediante a relação de trinta Tópicos que por interseção estabelecem as condições modais de existência da pessoa. A Estrutura de Pensamento se caracteriza pela sua mobilidade, plasticidade, pois ela muda de pessoa para pessoa, ela muda de época para época, ela muda na própria pessoa durante a vida. Ela procura entender a experiência humana enquanto existência.

Fenomenologia

Estudo dos fenômenos em si mesmos, independentemente dos condicionamentos exteriores a eles, cuja finalidade é apreender sua essência, estrutura de sua significação. É também um método de redução, pelo qual o conhecimento factual e as suposições racionais sobre os fenômenos como objeto, e a experiência do eu, são postas de lado, para que a intuição pura da essência do fenômeno possa ser rigorosamente analisada. É o estudo dos fenômenos, distinto do estudo do ser, ou ontologia.

Filosofia

A maioria das definições de filosofia são razoavelmente controversas, em particular quando são interessantes ou profundas. Esta situação deve-se em parte ao fato de a filosofia ter alterado de forma radical o seu âmbito no decurso da história e de muitas das investigações nela originalmente incluídas terem sido mais tarde excluídas. Uma definição minimalista mas satisfatória é que a filosofia consiste em pensar sobre o pensamento. Isto permite-nos sublinhar o caráter de segunda ordem da disciplina e tratá-la como uma reflexão sobre gêneros particulares de pensamento ? formação de crenças e de conhecimento ? sobre o mundo ou porções significativas do mundo. Uma definição mais pormenorizada, mas ainda assim incontroversa e abrangente, é que a filosofia consiste em pensar racional e criticamente, de modo mais ou menos sistemático, sobre a natureza do mundo em geral (metafísica ou teoria da existência), da justificação de crenças (epistemologia ou teoria do conhecimento), e da conduta de vida a adotar (ética ou teoria dos valores). Cada um dos três elementos listados possui uma contraparte não filosófica, da qual se distingue pelo seu modo de proceder explicitamente racional e crítico e pela sua natureza sistemática. Todos nós temos uma concepção geral sobre a natureza do mundo em que vivemos e do lugar que nele ocupamos. A metafísica interroga-se sobre os pressupostos que sustentam acriticamente estas concepções recorrendo a um conjunto organizado de crenças. Ocasionalmente, todos duvidamos e questionamos crenças, não só as nossas como as alheias, e fazemo-lo com mais ou menos sucesso sem possuirmos uma teoria acerca do que fazemos. O objetivo da epistemologia consiste em explicitar as regras que determinam a correta formação de crenças e argumentar a seu favor. Também orientamos as ações com vista a objetivos e fins que valorizamos. A ética, ou filosofia moral, no sentido mais inclusivo, pretende articular, de uma forma racional e sistemática, as regras ou princípios subjacentes. (Na prática, a ética tem-se restringido aos aspectos morais da conduta e, em geral, tem tendência para ignorar a maioria das ações que praticamos em virtude de critérios de eficiência ou prudência, como se fossem demasiado básicos para justificarem um exame racional.) As três partes principais da filosofia estão relacionadas de várias formas. Para que possamos orientar racionalmente a conduta é necessária uma concepção global do mundo onde esta se desenvolve e de nós próprios enquanto agentes nele integrados. A metafísica pressupõe a epistemologia para autenticar as formas especiais de raciocínio a que atribui confiança e também para assegurar a solidez das assunções que, em algumas variantes, é levada a fazer acerca da natureza das coisas, por exemplo, que nada provém do nada, que no mundo e na experiência que dele possuímos existe recorrência ou que a mente não se encontra no espaço. Os primeiros filósofos reconhecidos, os pré-socráticos, eram, sobretudo metafísicos preocupados em estabelecer as características essenciais da natureza no seu todo, como na critica afirmação de Tales: "Tudo é água". Parmênides foi o primeiro metafísico cujos argumentos chegaram até nós. Baseado nas razões fornecidas pelos famosos paradoxos de Zenão, concluiu que o mundo estava privado de movimento e ocupava a totalidade do espaço. O cepticismo dos sofistas desafiou as assunções da moral convencional, fato que esteve na origem da ética, notavelmente com Sócrates. Platão e Aristóteles escreveram penetrantemente sobre metafísica e ética; Platão sobre o conhecimento; Aristóteles sobre lógica (dedutiva), a técnica mais rigorosa para justificar crenças; estabeleceram as suas regras de uma forma sistemática e manteve intacta a sua autoridade durante mais de 2000 anos. Na Idade Média, ao serviço do cristianismo, a filosofia apoiou-se primeiramente na metafísica de Platão, e em seguida na de Aristóteles, com o propósito de defender crenças religiosas. No Renascimento, a liberdade de especulação metafísica ressurgiu; na sua fase tardia, com Bacon e, de um modo mais influente com Descartes e Locke, dirigiu-se para a epistemologia com o objetivo de ratificar e, tanto quanto possível, acomodar a religião e os novos desenvolvimentos das ciências naturais. Hume argumentou contra a possibilidade da sua compatibilização, bem como da metafísica em geral. Na Europa continental, Espinosa e Leibniz praticaram uma metafísica dedutiva ao estilo de Parmênides com resultados comparativamente surpreendentes. Kant, formado nesta tradição, afastou-se dela na seqüência da leitura de Hume, rejeitou a metafísica nas suas variantes tradicionais e atribuiu a ordem do mundo publicamente observável ao trabalho formativo da mente na experiência. Os seus herdeiros alemães, tirando partido de algumas inconsistências de Kant, retomaram a metafísica nos moldes pomposos tradicionais. Em Inglaterra, o empirismo de Locke e Hume prevaleceu, e a epistemologia manter-se-ia como disciplina filosófica central até meados deste século. A metafísica dispõe de meios diversos para lidar com um tópico que, apesar de já formulado, de modo algum é claro: a natureza geral do mundo. O primeiro consiste em recorrer a demonstrações puramente racionais. Alcançamos, então, conclusões admiráveis baseadas no fato de a sua negação implicar uma autocontradição. Um exemplo notável é a demonstração ontológica da existência de Deus. Deus é definido como perfeito. Um deus que existe é mais perfeito que qualquer outra coisa que não exista. Portanto, Deus existe necessariamente. Adotando um estilo semelhante, Leibniz demonstrou que a realidade, na sua constituição última, é mental; Bradley descobriu contradições escondidas no repertório de noções fundamentais do senso comum e da ciência (relação, espaço, tempo, pluralidade, o eu, e por aí adiante), e concluiu que a realidade é uma entidade única, indivisível no tecido da experiência, uma unidade espiritual que absorve a personalidade individual e a natureza. O segundo procedimento metafísico consiste em partir da "aparência" (da superfície perceptível do mundo), e derivar conclusões a respeito da realidade última que transcende a aparência. Os argumentos que defendem a existência de Deus com base na necessidade de uma primeira causa ou nas marcas de um desígnio inteligente que descobrimos no mundo da percepção, são exemplos típicos neste domínio. Mais importante ainda para a história da filosofia é a teoria das Formas ou universais objetivos de Platão, segundo a qual estes se encontram não no espaço e no tempo, mas num mundo próprio, que Platão utiliza para explicar o reconhecimento de propriedades recorrentes no fluxo contínuo das aparências e ainda para servirem de objetos das asserções eternamente verdadeiras do conhecimento matemático. Hume atacou a metafísica demonstrativa em termos epistemológicos. Defendeu que os argumentos puramente racionais apenas permitem estabelecer as verdades formais da lógica e da matemática. A negação de um enunciado autocontraditório não é uma verdade factual substancial, mas algo meramente convencional que reflete o modo como usamos as palavras. Kant combateu a metafísica transcendente, argumentando que as noções de substância e causa apenas produzem conhecimento se forem aplicadas à matéria bruta fornecida pelos sentidos, e não se forem utilizadas para lá dos limites da experiência. Os positivistas lógicos atacaram a metafísica transcendente de forma ainda mais veemente, baseados no princípio de verificabilidade, defendendo que as suas afirmações não têm sentido visto não serem verificáveis na experiência. Kant opôs-se também a um tipo de metafísica caracterizado não tanto por ir além do mundo das aparências como pelas extrapolações em direção ao infinito que construiu a partir delas, por exemplo, as teses de que o mundo é infinitamente grande, que é eterno, composto por partes infinitesimais, e por aí adiante. Kant formou pares de asserções deste gênero com as suas negações e argumentou, num aparente desafio à lógica, que ambos os membros de cada par são autocontraditórios. Este tipo de metafísica, que se ocupa do quantitativamente inacessível (e não com o qualitativamente inacessível), está aberta às mesmas objeções. As teorias sobre o que foi designado por "categorias do ser" encontram-se entre as sobreviventes do longo combate que opôs a metafísica aos seus detratores. O dualismo psicofísico, argutamente tratado em Descartes, mas já defendido antes e também depois, é talvez o caso mais familiar. Esta forma de dualismo tem raízes epistemológicas. Uma é a distinção entre dois tipos de experiência: as sensações e a introspecção. Outra é a alegada infalibilidade das crenças acerca de conteúdos mentais em contraste com a falibilidade das crenças sobre o mundo material objetivo. Os materialistas, como Hobbes, argumentaram que a atividade mental é corpórea, ainda que apenas numa pequena escala. Os idealistas como Berkeley (e, de certo modo, os fenomenistas como Mill) defenderam que os corpos materiais são complexos de sensações, quer efetiva, quer existentes na mente de Deus ou hipotéticas. O domínio platônico das idéias alberga uma alegada terceira categoria, a das entidades abstratas, por exemplo, propriedades, relações, classes, números e proposições. Os valores foram aí incluídos de maneira a providenciar algo acerca do qual os juízos de valor sejam verdadeiros. O monismo pode ser nem mental nem físico, mas neutral. Russell, William James, Mach e, até certo ponto, Hume, pensavam que os corpos e as mentes eram formados pelo mesmo tipo de sensações, possíveis e atuais, tal como as imagens que as copiam. Estas sensações combinam-se para constituir os corpos; as sensações e as imagens constituem as mentes. Além dos tipos de metafísica consideradas até ao momento, cujo objetivo é construir uma concepção do mundo como um todo, há também uma metafísica de âmbito mais restrito que procura examinar a detalhada estrutura do mundo: os indivíduos, as suas propriedades, as relações que mantêm entre si, os acontecimentos que preenchem a sua história ? a mudança, portanto ? e também os acontecimentos que constituem as partes mais desinteressantes e as mais férteis dessa história; o fato de os indivíduos possuírem propriedades, e por aí adiante. A doutrina de Aristóteles transformou estes tópicos num tema de investigação organizada (ainda que as suas categorias fossem bastante diferentes das mencionadas atrás). Em certa medida, foram absorvidos pela lógica filosófica uma vez que esses aspectos mais subtis da estrutura do mundo correspondem às características formais da linguagem (do pensamento e do discurso), assumidas como distinções básicas da lógica formal. A questão fundamental da epistemologia, mas talvez não a mais interessante, é a definição de conhecimento. Platão colocou-a no Teeteto e concluiu que o conhecimento é algo mais que crença verdadeira, ainda que a inclua. A idéia de que a justificação constitui o elemento remanescente enfrenta dificuldades sérias exceto, como muitos sustentam, se a regressão ao infinito a que parece dar origem puder ser evitada defendendo, por exemplo, que algumas crenças não são justificadas por outras crenças, mas pela experiência. Muitos filósofos consideram, no entanto, que este problema tem um interesse reduzido uma vez que o próprio conhecimento tem um interesse reduzido. Tudo quanto importa é a crença racional justificada. Contudo, foi também sugerido de forma persuasiva que o elemento em falta na definição não deverá ser acidental ou que deverá possuir como causa o fato que o torna verdadeiro. Quase toda a epistemologia envolve duas distinções amplas: a primeira entre o que Leibniz chamou "verdades da razão" e "verdades de fato", a segunda entre o que é conhecido direta ou imediatamente e o que é conhecido por inferência. As verdades da razão são verdades necessárias que podem ser descobertas a priori, isto é, sem a dependência dos sentidos e apenas pelo pensamento. As verdades de fato são contingentes, baseando-se a sua justificação na experiência. As duas distinções sobrepõem-se. Algumas verdades da razão devem ser imediatamente conhecidas para que as restantes possam ser inferidas. As primeiras são consideradas axiomas ou princípios da lógica e da matemática. A perspectiva convencional acerca de verdades de fato não imediatas sustenta que estas são realmente inferidas, mas não com base na lógica dedutiva. Neste caso é necessária a indução, um processo que consiste em derivar generalizações irrestritas com base num número limitado de instâncias. Peirce e, ainda com maior veemência, Popper, negaram ou marginalizaram a indução. Deste ponto de vista, os enunciados gerais são propostos como hipóteses dignas de serem investigadas e, em seguida, examinam-se as conseqüências deles deduzidas; são rejeitados casos estas se revelem falsas e preservados, com crescente confiança, quanto maior o número de testes a que sobrevivam. Esta concepção está mais próxima da prática científica que a teoria convencional da indução, mas, aparentemente, permite-lhe entrar ainda pela porta do fundo. Leibniz pensava que as verdades da razão decorrem do princípio de contradição; no entanto, não avançou o suficiente para concluir, como Hume e a maioria dos empiristas subseqüentes, que por essa razão são analíticas, no sentido de serem meramente verbais e de se limitarem a reiterar no que afirmam algo já antes assumido. Kant considerou que o principal problema da filosofia consistia em determinar se existem, e de que modo, crenças em simultâneo sintéticas, com conteúdo substancial e a priori, que o pensamento fosse, por si só, capaz de descobrir. Concluiu que estas crenças existem: são as crenças da aritmética e da geometria, ou os "pressupostos das ciências naturais", que afirmam a existência de uma quantidade permanente de matéria na natureza e que todos os acontecimentos têm uma causa. Foi ainda mais longe e atribuiu a verdade necessária destas crenças substanciais ao modo como a mente impõe a ordem no caos da experiência a que está submetida. Mas não foram muitos os que o seguiram. Mill sustentou que as verdades matemáticas são na realidade empíricas; Herbert Spencer que as verdades necessárias não vão além de crenças bem estabelecidas que herdamos dos nossos antepassados. Recentemente, Quine defendeu que não existe uma diferença de gênero entre verdades da razão e verdades de fato, mas apenas no grau de determinação com que aceitamos abandoná-las perante dados recalcitrantes. «»A distinção entre conhecimento direto e conhecimento por inferência foi desafiada em diferentes momentos, incluindo na atualidade, por filósofos que não encontraram saída para o labirinto das crenças. Os defensores da teoria coerentista do conhecimento seguiram as pisadas dos idealistas hegelianos e dos positivistas vienenses (até Tarski os ter libertado do labirinto). Parte das razões que sustentam esta distinção provém de um antigo princípio segundo o qual a nossa percepção dos objetos materiais externos não é direta devido à sua característica falibilidade, como revela o apreço que por vezes exibimos por algumas ilusões, devendo, portanto, ser inferida com base no conhecimento por hipótese infalível que possuímos das nossas impressões sensoriais. Mas, serão estas inferências válidas ou, no mínimo, defensáveis? Caso o não sejam, deveríamos suspender céticamente as nossas crenças a respeito do mundo exterior? E, em caso de resposta afirmativa, qual o gênero de inferências que temos em vista: para a mesma categoria de coisas, impressões possíveis e atuais, ou para algo diferente, que transcende a experiência, nomeadamente a matéria? O padrão associado a este problema, tal como as várias modalidades de soluções possíveis que lhe correspondem, foram considerados recorrentes num grande número de casos. Por exemplo, os indícios que possuímos para sustentar crenças sobre o passado encontram-se no presente, em vestígios e memórias; mas, de que modo ultrapassar o abismo que dele nos separa, se é que isto é possível? As crenças acerca das outras mentes são baseadas no comportamento dos corpos que observamos e naquilo que nos dizem. Uma solução até agora não mencionada consiste em negar que estejamos confinados ao tipo de indícios especificados. Isto parece bastante atraente no caso da percepção uma vez que implica que percepcionamos os objetos materiais diretamente, ainda que não de modo infalível, e no caso das crenças sobre o passado, que as nossas memórias constituem realmente essas crenças, não sendo, portanto, apenas um indício em que se sustentam; no caso das mentes alheias, contudo, algum tipo de telepatia seria indispensável para o efeito. A importância central destes três gêneros de crenças dificilmente exige ser sublinhado, não apenas para a ciência, a história ou a psicologia, como para a nossa vida cognitiva considerada como um todo. Uma característica curiosa acerca da epistemologia é a reduzida atenção prestada à fonte da grande maioria das nossas crenças, nomeadamente, o testemunho alheio: pais, professores, manuais didáticos, enciclopédias. Há aqui um problema interessante. Se dependermos deles quanto aos princípios que utilizamos para testar o caráter fidedigno do que nos dizem, como poderemos alguma vez alcançar uma verdadeira autonomia cognitiva e intelectual? A lógica, que, como foi dito atrás, constitui o mais poderoso e coercivo instrumento de justificação de crenças, nunca foi considerada parte da epistemologia. A organização sistemática de que foi alvo teve lugar ainda antes de a epistemologia ser identificada como uma disciplina filosófica por direito próprio. Começou, e em parte permaneceu, como um corpo ordenado de regras de inferência aplicáveis a todos os gêneros de pensamento e de discurso. Desde Aristóteles até meados do século XIX manteve-se em larga medida adormecida. Desde então, sofreu um amplo desenvolvimento e incluiu as lógicas aristotélicas com algumas alterações, tornando-se numa certa perspectiva um ramo da matemática. Os seus elementos foram desde sempre considerados um preâmbulo ao estudo da filosofia, algo que ainda hoje se verifica. Não constitui exatamente uma parte da filosofia, ainda que a reflexão crítica sobre as suas assunções, designada por lógica filosófica, o seja de modo inquestionável. Há um número bastante vasto e, de fato, indeterminado, de disciplinas filosóficas especializadas; filosofias da mente, linguagem, matemática, das ciências (da natureza e sociais), da história, religião, direito, educação, e até do desporto e do sexo. Sempre que um campo de investigação particular, como é caso da ciência e da história, tem em vista o conhecimento, a filosofia correspondente é de natureza epistemológica. A metafísica da natureza é uma idéia destinada a deixar de fora os cientistas, ainda que o problema da realidade de certas entidades teóricas como as partículas elementares possam ser incluídas nela. A metafísica ou filosofia especulativa da história, que se reduz à elaboração de esquemas e padrões gerais (cíclicos ou progressivos) da totalidade dos acontecimentos históricos é considerada com suspeição. O fundamento racional para esta suspeição é um tópico que pertence à crítica e epistemologia da história. A filosofia da mente, tal como atualmente é praticada, teve início com o problema epistemológico que consiste em determinar como é possível saber o que se passa nas mentes alheias. Transformou-se, contudo, em metafísica. O velho problema da identidade pessoal pode ser colocado de duas maneiras: "Como sabemos que uma pessoa atualmente existente é a mesma pessoa que existiu num momento anterior?" Ou "O que significa para uma pessoa atualmente existente ser idêntica à pessoa que existiu antes?". Se o problema da identidade pessoal não é simplesmente irresolúvel, ambas as perguntas devem receber a mesma resposta. Considera-se freqüentemente que a filosofia da ciência envolve tópicos importantes para o pensamento pré-científico. Um deles refere-se à natureza da causalidade e ao modo de distinguir uma conexão entre acontecimentos determinada por uma lei de uma simples concomitância acidental. Outro tópico é o da justificação da indução e da interpretação de probabilidades, ou gêneros de probabilidade, que a indução supostamente confere às suas conclusões. As relações causais, as crenças de âmbito geral e aquelas que consideramos não serem meramente prováveis são características indispensáveis do pensamento típico do senso-comum. A terceira e última grande subdivisão da filosofia é a ética, ou teoria dos valores; o seu objetivo consiste no exame crítico e racional do pensamento acerca do modo como nos conduzimos na vida. A ação, em contraste com o comportamento, é entendida como o produto de uma escolha; a comparação entre diversas alternativas é empreendida à luz do seu caráter desejável, das suas conseqüências ou da possibilidade ou facilidade de as efetuar. Na ação encontram-se, assim, envolvidos dois tipos de crenças: crenças factuais acerca do que está em causa ao agir de determinada maneira e quais os seus resultados, e crenças a respeito do valor desses resultados ou ausência de valor do que é necessário fazer para os assegurar. De fato, na ética posterior aos gregos, o tipo de ação que monopolizou a atenção foi à ação moral estritamente concebida. Eis, provavelmente, um resultado do entusiasmo religioso. O cristianismo iniciou-se como uma religião milenarista, indiferente aos assuntos mundanos e preocupados com a salvação, em parte porque estava convencido da falta de valor do mundo e da carne, mas, principalmente, devido à crença no fim do mundo. Qualquer que seja a causa desta concepção estrita, ela provocou um efeito de distorção. Em princípio, a ética deveria interessar-se pelos diferentes gêneros de conduta deliberada e refletida: a conduta prudente e de interesse próprio com vista, respectivamente, à mínima perda e ao ganho máximo para o agente, a conduta técnica eficiente, a conduta econômica, a conduta saudável, etc. O bem moral e a retidão são apenas tipos particulares de retidão. A lógica e a epistemologia, na medida em que se ocupam em distinguir o certo do errado no plano do raciocínio, podem ser descritas, não por liberdade metafórica, como éticas da inferência e da crença. A influência da religião na moral fez esta última ser considerado o mandamento de Deus à humanidade. Dado que esta situação conduziu a problemas de autentificação e de interpretação, a voz de Deus internalizou-se, quer como uma espécie de sentido moral sob cuja influência a qualidade moral das ações e o caráter do agente são apreendidos, quer como razão moral manifesta na apreensão da necessidade auto-evidente dos princípios morais. São duas as assunções que podemos questionar a propósito destes tipos de intuicionismo. A primeira é a de que as características morais são sui generis, sem relação lógica com as características naturais ou percepcionáveis dos agentes e das suas ações. A segunda é a de que as ações, ou certos tipos de ação está intrinsecamente certo ou errado, quaisquer que sejam as suas conseqüências, reais ou esperadas. Estas características, se realmente distintivas da moralidade, torna-la-iam diferente dos restantes modos de ação. Os utilitaristas rejeitam ambas as assunções. Derivam a retidão ou a não retidão das ações da bondade ou malignidade das suas conseqüências e, de forma plausível, das conseqüências que é razoável para o agente esperar, de preferência às conseqüências de fato resultantes. Em segundo lugar, consideram que o bem coincide com a felicidade e o prazer ou, mais exatamente, que reside na felicidade geral, na felicidade do maior número de indivíduos. Formulada negativamente, a doutrina utilitarista coincide com o sentimento moral irrefletido: uma ação é má se implica o prejuízo de outros e é permissível caso esse prejuízo não se verifique; moralmente, uma ação merece ser creditada se alivia ou previne o sofrimento alheio. Apesar das diferenças que os separam, intuicionistas e utilitaristas estão de acordo quanto à existência de verdades morais objetivas. A magnitude e intensidade das disputas morais fortalecem o cepticismo, segundo o qual os juízos morais são apenas manifestações dos nossos gostos e repulsas e as disputas morais o resultado da colisão de sentimentos que não podem ser resolvidas através de meios racionais. A questão fundamental em ética, concebida simplesmente como filosofia moral, é a de saber se as nossas convicções morais possuem validade objetiva e, em caso afirmativo, de que tipo. Serão, como pretendem os intuicionistas, convicções de um tipo especial, ou mantêm ligações lógicas com o conjunto das nossas crenças? Será que as propriedades morais são intrínsecas à ação ou apenas dependem das suas conseqüências? Em que consiste o bem e a virtude moral? Será uma disposição para praticar ações retas ou, de forma mais estrita, a disposição para praticar ações retas porque são retas? Em que condições um agente merece ser censurado (ou elogiado) em conseqüência de ações praticadas? Será que a responsabilidade pressupõe a liberdade da vontade, no sentido em que as que as escolhas livres não são causalmente influenciadas? Outras duas formas estabelecidas da teoria dos valores são a filosofia política e a estética. A filosofia política é uma extensão da ética para o domínio das instituições sociais e, tal como a ética em geral, parece excessivamente moralizada. O problema fundamental da filosofia política é à base da obrigação dos cidadãos em obedecer ao estado e às suas leis e, visto do outro ângulo, o do estado em compelir os cidadãos a obedecer-lhe. (Seria interessante investigar em que consiste o que torna mais razoável para os cidadãos obedecerem.) Será que a obrigação de obedecer depende do conteúdo das leis ou da forma como o estado é formado e mantido? Será que os seres humanos possuem direitos que limitam a esfera de atuação do estado? O valor estético é reconhecido como independente dos valores morais, apesar da ocorrência de elementos morais na crítica ? por vezes relevantemente, outras de forma intrometida. A palavra "beleza" não o indica satisfatoriamente. Outras línguas conseguem fazer melhor. "Beau" e "schön" significam a propriedade dos objetos artísticos ou naturais que merecem ser contemplado por direito próprio, independentemente de considerações a respeito da sua eventual utilidade ou da informação que podemos obter pelo fato de os estudarmos. As partes estabelecidas da filosofia foram já mencionadas, mas não existem limites evidentes para o seu campo de aplicação. Sempre que nos deparamos com uma idéia cujo significado é de algum modo indeterminado ou controverso, se os enunciados onde ocorre parecem dificilmente sustentáveis ou mantêm com outras crenças comparativamente mais claras relações lógicas obscuras, deparamo-nos ainda com uma oportunidade para refletir filosoficamente. Anthony Quinton Universidade de Oxford Tradução de Paulo Ruas

Filosofia Clínica

É um exercício filosófico nas questões existenciais, original, criado por Packter, para trabalhar os choques mais graves e violentos que ocorrem na Estrutura de Pensamento da pessoa. A Filosofia Clínica deve ser considerada como uma ação fenomenológica e humanista, um procedimento clínico, uma atitude filosófica clínica realizada por filósofos. É assim definida por Packter: a) O uso do conhecimento filosófico à psicoterapia; b) Atividade filosófica aplicada à terapia do indivíduo; c) As teorias filosóficas empregadas às possibilidades do ser humano enquanto se realiza por si mesmo (Caderno A). A descoberta packteriana pressupõe a existência de uma Estrutura de Pensamento, que nos determina o modo como à pessoa está existencialmente no ambiente. O local de atendimento vai além dos consultórios. Muitos lugares estão sujeitos a serem bons espaços de trabalho. Há casos que desaconselham limitar o trabalho filosófico clínico a um consultório. Procura-se confortar o partilhante no intuito de viabilizar o diálogo e a própria clínica. A psicoterapia praticada pela filosofia não contém tipologia; não usa termos como normal versus patológico; não utiliza drogas medicamentosas alopáticas; não usa procedimentos clínicos a priori. A Filosofia Clínica é construída a começar da pessoa. A Filosofia Clínica é toda ela construída sob bases filosóficas, desde as raízes. Tendo seu aprofundamento em Hume e Locke, Russell, Wittgenstein e Merleau-Ponty, George Berkeley, Peirce, William James, John 15 de Dezembro de Dewey e George Mead. Também os trabalhos de Edmund Husserl em fenomenologia; o existencialismo de Martin Buber e de Gabriel Marcel. as obras de G. E. Moore John Wisdom, Gilbert Ryle e John Austin. Também Saussure, Deleuze, Derrida e Foucault... Os métodos da Filosofia clínica consta de: historicidade, fenomenologia e epistemologia. A clínica se dá via Exames categorias (Assunto, Circunstância, Lugar, Tempo e Relação), Estrutura de Pensamento e em seguida, Submodo.

Dicionário de Filosofia

Autopoiesis

É a estrutura de um sistema vivo. Refere-se à capacidade em transformar e integrar componentes e processos desencadeados por perturbações internas ou externas. Encontra-se subordinada à organização, mas esta, por seu lado, só pode auto-manter-se devido aos elementos complexificadores aportados pela estrutura. Segundo Maturana é a crença de que somos animais racionais que nos leva a enaltecer a racionalidade em detrimento das emoções e, esse processo faz que nossa noção de realidade seja independente do que realizamos no mundo. Em resumo é a teoria biológica, dos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela de bastante repercussão na epistemologia e nas áreas do saber humano, qual fundamenta que a invariante que se mantém nos processos de adaptação ontogenéticos, e que nos permite identificar um organismo como uma unidade é a autopoiesis desse ser vivo. Auto enquanto referenciado a si próprio; poiesis, de produção (poiein).

Axiologia

É a abordagem filosófica Teoria do valor em sentido amplo. Sua importância reside principalmente no novo e mais extenso significado que atribuiu ao termo valor e na unidade que trouxe ao estudo de questões econômicas, éticas, estéticas e lógicas que eram tradicionalmente consideradas em separado.

Categoria

Categoria é a classe de atributos que dizem respeito a um sujeito determinado. As categorias são gêneros, pelos quais se distribuem todos os seres ou realidades do mundo criado. Observadas de outro ângulo, as categorias são os diferentes pontos de vista a partir dos quais os seres se oferecem à investigação, e assim determinam os caminhos por meio dos quais é possível conhecê-los. As categorias significam, portanto, as diferentes maneiras de expressão do ser, ou as diferentes maneiras de ser.

Conceito

É um idéia ou verbo mental que se expressa daquilo que se aprende do objeto e se dá quando ao conceber o pensamento nos referimos intelectualmente através de um sinal imaterial. Os empiristas pensam os conceitos como o resultado de um processo de abstração a partir da experiência.

Conhecimento

O conhecimento humano é a verdade acessível ao homem, e esta verdade é relativa, finita e limitada. Existe uma realidade absoluta, mas acesso direto a esta realidade ou percepção direta dela é impossível. O conhecimento da realidade é relativo e limitado ao conhecimento dos vários efeitos produzidos por esta realidade absoluta. É um termo que designa, em filosofia, o processo pelo qual o sujeito apreende um objeto. O conhecimento sensível nos é dado por meio dos sentidos já o inteligível depende do uso da razão e tem como objeto tipos gerais, e não individuais e concretos.

Dicionário

Se a etimologia da palavra dicionário (do Latim Dictionariu) a remete a um conjunto dos vocábulos dos termos próprios de uma ciência ou arte, dispostos por ordem alfabética e com a respectiva significação ou a sua versão noutra língua. Então no nosso caso, aqui, a usaremos como num léxico (do Grego Léxicon), isto é, como um dicionário de línguas clássicas antigas, abreviado num conjunto dos vocábulos, usados no domínio especializado da filosofia.

Dicionário de Filosofia

Abbagnano, Nicola (1901-1990)

Filósofo italiano. Influenciada pelo pensamento de Kant, suas obras, "O existencialismo positivo (1948)" e "História da filosofia (1949-1953)", tem por tema principal o significado da existência.


Abelardo

Teólogo e filósofo defendeu o exame crítico das Escrituras à luz da razão por acreditar na capacidade da mente humana de alcançar o verdadeiro conhecimento natural. Estudou em Paris e foi professor da catedral de Paris (Notre Dame), a clareza do seu espírito atraiu uma multidão de discípulos. É conhecido, popularmente por sua ligação amorosa com Heloísa, sobrinha do cônego Fulbert, tornando-se famosa a correspondência que trocaram, pois refletem o temperamento a um só tempo espiritual de Abelardo. Seu livro mais famoso, Sic et non (Sim e não) foi escrito em 1121-1122. Nele apresenta argumentos contra e a favor de quase todas as grandes teses filosóficas da época, método que santo Tomás de Aquino retomaria na Suma teológica. Abelardo chama esse jogo lógico de "dialética" e o acha importante para aguçar o espírito. Sua filosofia é em grande parte uma análise da linguagem, que se torna notável ao estudar o problema dos "universais".


Absoluto

Com uma abordagem idealista ou materialista, a noção de absoluto é tentada pelas mais diversas correntes do pensamento filosófico, desde os pré-socráticos, com seu princípio monista, até Schopenhauer, com o conceito de vontade cega, passando pela idéia de substância, formulada por Spinoza, e pelo materialismo dialético, próprio da filosofia marxista. Assim o conceito de absoluto e sua relação com a realidade sensível é um dos problemas fundamentais na história da filosofia. Segundo Aristóteles, do ponto de vista metafísico, o absoluto é, "o que existe e subsiste em si e por si", ou seja, o motor imóvel, causa de todas as causas, que, como fundamento último da realidade, não é afetado por suas leis. O absoluto, assim concebido como pura transcendência, não pode ser definido positivamente. Pode-se dizer que o absoluto não tem causas, pois se as tivesse dependeria de outra coisa; não tem forma, pois seria determinado por ela; e que nada existe fora dele, pois nesse caso não seria absoluto. Essa concepção de absoluto se encontra nos fundamentos do pensamento medieval e, mais especificamente, na teologia negativa, que identifica o absoluto com Deus, de quem só se pode saber o que não é e não o que é. Nicolau de Cusa afirma que "o conhecimento da verdade absoluta transcende nosso entendimento finito" e que "Deus se entende incompreensivelmente". A concepção de absoluto como entidade substantiva diferente de Deus aparece no idealismo alemão, como o fundamento último da razão e esta, da realidade. Kant afirma que o fundamento último da razão tem que ser absolutamente incondicionado. Fichte leva a idéia de absoluto ao extremo subjetivismo, identificando-o com o eu universal. Friedrich Schelling entende o absoluto como fundamento universal da realidade, que contém em si mesmo seu princípio espiritual. A unidade entre sujeito e objeto proposta por Schelling é à base da crítica hegeliana a sua concepção de absoluto e para tentar resolver o problema das concepções metafísicas sobre o absoluto em sua relação com o intelecto, concebe a razão humana como uma espécie de outra razão superior, a do espírito absoluto, que se realiza a si mesmo no tempo, mediante um processo dialético, de natureza lógica, que é também histórico. É o próprio espírito absoluto que pensa a si mesmo e faz culminar o processo com a consciência absoluta de si mesmo. Na filosofia moderna, a noção de absoluto confunde-se com a de totalidade e de fundamento do real, seja ela concebida de um ponto de vista idealista ou materialista. A reflexão sobre o absoluto tem constituído a tarefa básica de todas as filosofias, seja para tomá-lo como postulado ou, como acontece na analítica contemporânea, para afirmar a impossibilidade de emitir juízo algum sobre ele.


Abstração

É uma operação intelectual pela qual o espírito separa mentalmente coisas, de fato inseparáveis. Uma das muitas atividades da mente, por meio da qual se faz com que determinadas idéias representem todos os objetos da mesma espécie.


Abstrato

Diz-se de toda noção que resulta de uma abstração como, por exemplo: Se um termo se refere a algo abstrato daquilo que é referido é porque não tem existência espaço-temporal, isto é, o contrário de concreto, qual Berkeley considera, não existe num lugar qualquer nem num determinado momento, sendo o que está intimamente ligado diretamente ao conceito. Na Filosofia Clínica o termo abstrato tem dimensões além daquelas tratadas nas idéias particulares, em Locke universalizadas. Segundo, o filósofo, Lúcio Packter, o termo abstrato é o que está indiretamente relacionado aos sentidos, e diretamente ligado a conceitos, como, por exemplo, entendemos que um aroma é diferente de outro por suas naturezas distintas.


Absurdo

No passado mais remoto, a noção do absurdo esteve latente nas filosofias irracionalistas ou nas que se recusavam a encontrar uma explicação racional para a existência. Paralelamente a essas filosofias, tal noção encontrava-se também subjacente em muitas expressões artísticas, sobretudo nas manifestações do fantástico, da literatura dos sonhos, do humor como conceitos afins ao de absurdo no sentido moderno, mas distintos porque o absurdo teria sempre um sentido, embora inexplicável e recôndito; o fantástico se situaria numa fronteira indefinida entre a realidade e a irrealidade, ou seria um modo peculiar de ver a existência, por meio de fantasias individuais, enquanto o sentimento do absurdo estaria ligado ao real em si mesmo, independentemente das projeções subjetivas. Já o humor negro se caracterizaria como expressão essencialmente gratuita, não comprometida com a busca de significações para o real. A noção do absurdo da existência é convertida em núcleo básico de importantes expressões filosóficas e artísticas do século XX como Søren Kierkegaard, Miguel de Unamuno e outros. A afinidade com o absurdo se evidencia em autores do século XX que utilizaram o fantástico como elemento de uma nova indagação sobre a existência. Mesmo o humor negro, caracteriza-se pela gratuidade em autores de um passado recente (os surrealistas, por exemplo), revelou-se carregado de novas conotações nas obras de Kafka ou Beckett. Os existencialistas rejeitaram as hipóteses metafísicas e teológicas para a explicação da existência. Em seu lugar, introduziram a noção do fracasso ontológico do homem, cuja vida seria uma "paixão inútil" (Sartre) e procuram uma saída para o dilema da condição humana, propondo a escolha lúcida do próprio destino (Sartre) ou a revolta (Camus). Esta saída foi negada pelos representantes do teatro do absurdo (Samuel Beckett, Eugène Ionesco), que não admitem sequer a possibilidade de explicação para o real, proclamando a impotência dos atos humanos. Neles, ao contrário dos existencialistas, de expressão quase sempre realista, o absurdo emerge funcionalmente na própria representação cênica, com a mímica grotesca, o humor negro e as expressões parabólicas. O grande marco do absurdo moderno são os romances e contos de Kafka quando não apontam saídas e a ação dos personagens parece desprovida de significação estando condicionada a potências imprevisíveis e invisíveis. Seus personagens ignoram os crimes de que são acusados e suas tentativas de defesa revelam-se grotescas e destinadas ao fracasso. A tese do absurdo existencial foi explicitada por Albert Camus "O mito de Sísifo, ensaio sobre o absurdo" (1942), onde o personagem mitológico Sísifo, rolando montanha acima uma pedra que sempre volta a cair, encarna a inutilidade do esforço humano. Ao lado da expressão filosófica, a obra ficcional e dramática de Jean-Paul Sartre e Camus revelaria também, por meio de situações típicas, a problematização do absurdo. As mais características, nesse sentido, seriam "O muro" (1939), contos de Sartre em que os personagens decidem sobre seus destinos contra as leis da razão social; e Calígula (1944) e a Peste (1947), drama e romance de Camus em que os personagens se rebelam contra a própria condição humana, reduzida a sua impotência individual ou coletiva.


Academia

Escola filosófica fundada por Platão em 387 a.C., nos jardins consagrados ao herói ateniense Academos. Fechada no ano 529 por ordem do imperador romano Justiniano.


Acidente

Designação genérica de diversas circunstâncias ou qualidades que podem determinar uma substância, sem constituir, contudo um de seus elementos essenciais.


Adorno, Theodor

Filósofo e crítico musical, foi uma das figuras que mais contribuíram para denunciar a mercantilização que atinge a arte contemporânea. Foi professor na Escola de Frankfurt, constituiu o núcleo de uma linha original de pensamento filosófico-político desenvolvido por Walter Benjamim, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Wilhelm Reich, Jürgen Habermas e Adorno. A teoria crítica proposta por esses pensadores se opõe à teoria tradicional, que se pretende neutra quanto às relações sociais. Ela toma a própria sociedade como objeto e rejeita a idéia de produção cultural independente da ordem social em vigor. Adorno regressou à Alemanha em 1949, retomou a atividade docente e participou intensamente da vida política e cultural do país. Antes de sua morte em Visp, Suíça, em 6 de agosto de 1969, teve destacada e polêmica participação nos movimentos estudantis que sacudiram a Europa a partir de maio de 1968. Fundamentado na dialética de Hegel, Adorno imprimiu um conteúdo sociológico a seus escritos filosóficos e musicais. O jazz, a música, o teatro engajado e a literatura realista foram alguns dos objetos de reflexão escolhidos por Adorno para denunciar a mercantilização que atinge a arte contemporânea. O conceito de "indústria cultural" foi criado por Adorno para designar a exploração sistemática e programada dos bens culturais com finalidade de lucro. A obra de arte produzida e consumida segundo os critérios da sociedade capitalista se rebaixa ao nível de mercadoria e perde sua potencialidade de crítica e contestação. Produziu algumas das obras capitais do pensamento estético, como a "Dialética do esclarecimento" (1947), em colaboração com Horkheimer, a "Filosofia da nova música" (1949) e a inacabada "Teoria estética" (1970), na qual trabalhou até a morte.


Agnosticismo

Agnosticismo é aquilo que limita o conhecimento ao âmbito puramente racional e científico, negando esse caráter à especulação metafísica. Filosóficamente é interpretado, em sentido estrito, como um posicionamento diante das questões religiosas que sustenta ser impossível demonstrar tanto a existência quanto a inexistência de Deus. Os pensadores dogmáticos que postulam um caminho místico ou irracional de abordagem do absoluto, mantem a mesma posição do sentido estrito, mas negam que se possa chegar a conhecer alguma coisa a respeito do modo de ser divino. Em essência, ele emanaria de uma fonte racionalista, ou seja, de uma atitude intelectual que considera a razão como o único meio de conhecimento suficiente e o único aplicável, pois só o conhecimento proporcionado pela razão satisfaria as exigências de uma ciência rigorosa. Não nega, nem afirma a possível existência de seres espirituais, transcendentes ou não visíveis, e sim deixa em suspenso o juízo, abstém-se de pronunciar-se sobre sua existência e realidade, atuando de acordo com essa atitude. Nessa ordem de coisas, ainda que admita a possível existência de um ser supremo, ordenador do universo, sustenta que, científica e racionalmente, o homem não pode conhecer nada sobre a existência e a essência de tal ser, pois o agnosticismo circunscreve o conhecimento humano aos fenômenos materiais, e rejeita qualquer tipo de saber que se ocupe de seres espirituais, transcendentes ou não visíveis. Thomas H. Huxley criou o termo "agnosticismo" para ser uma antítese ao "gnóstico" da história da igreja. Uma atitude filosófica que nega a possibilidade de dar solução às questões que não podem ser tratadas de uma perspectiva científica, especialmente as de índole metafísica e religiosa. Essa definição de Huxley possibilitou diferentes concepções do agnosticismo ao longo da história. No âmbito filosófico, o empirismo, de David Hume, negou a possibilidade de se estabelecer leis universais válidas a partir dos conteúdos da experiência. O idealismo transcendental, de Kant, afirmou que o intelecto não pode conhecer a coisa-em-si, isto é, a essência real da coisa. O positivismo lógico, do século passado, estabelece que as proposições metafísicas não têm significado e, por isso, não é possível demonstrá-las. No âmbito religioso, o agnosticismo não nega nem afirma a existência de Deus, mas considera que não se pode chegar a uma demonstração racional dela; essa seria, em essência, a tese de Hume e de Kant, muito embora este considerasse possível demonstrar a existência de Deus como fundamento da moralidade.

História da Filosofia


Nicolas Malebranche (1638 - 1715)
Malebranche divide de forma definitiva a alma do corpo, aprofundando mais ainda o processo iniciado por Descartes. A alma não sente, a alma simplesmente pensa e quer. O corpo é somente extensão, e nada além disso. As ações da alma não provocam nenhum resultado sobre o corpo e este não atua de nenhum modo sobre a alma. Corpo e alma não desenvolvem nenhuma ação recíproca. A alma está separada tanto de outras almas como do mundo físico. A alma está isolada e somente conhece as coisas através da sua relação com Deus.
Nossa alma não entra em relação com os objetos, ela somente tem ideias deles. Todas as coisas que pensamos sentir são somente ideias das coisas que acreditamos estar sentindo. Nosso conhecimento não vem dos sentidos, mas de Deus, é em Deus que conhecemos todas as coisas. Todas as ideias e conceitos estão na mente de Deus, e é lá que nossa alma busca suas ideias e conceitos.
Nicolas com isso não quer dizer que nós conhecemos Deus, mas somente que o que conhecemos vem de Deus. A mente de Deus, a razão universal do criador é que ilumina a alma e todas as inteligências existentes, é na mente divina que estão as verdadeiras ideias, e é lá que nós buscamos as nossas ideias.
É Deus que produz em nossa alma as modificações e sensações que são produzidas em nosso corpo. É Deus que revela para a alma o que acontece fora dela. Deus imprime na alma as sensações que atingem nosso corpo.
Para Malebranche a existência de Deus é tão certa como a preposição "penso, logo existo". Deus é infinito e contém tudo em si, ele é imenso, e sua imensidão vai infinitamente além do universo.
Acredita ainda que a razão não falha, não muda e não se corrompe e portanto é preferível à fé. A razão não pode ter restrições porque Deus é a razão universal. É a fé que conduz a inteligência, mas a fé sem a inteligência não faz com que sejamos virtuosos, pois não nos guia no caminho da verdade.
Sentenças:
- Mesmo o mal quer o nosso bem.
- O espírito do mal se revela através da imaginação.
- O preconceito ocupa parte do espírito e afeto todo o resto.
- O que você admira em Deus se não sabe nada sobre ele?